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19 de novembro de 2009

Diálogos Possíveis


(Sinceramente, eu não conseguiria manter um diálogo com alguém que escreve em chatgrafia ou como também é conhecido como "miguxês" abreviar é possível, mas para tudo há limites. E acreditem, encontrei na Internet um, tradutor online de Português para Miguxês, quem não acredita, clique aqui MiGuXeitor )


Quando pequeno, fiquei intrigado nas aulas de catecismo. Por que "INRI" significaria "Jesus de Nazaré Rei dos Judeus"?

Depois, na escola, ganhei um livro com "Modelos de Cartas", e outras combinações estranhas ali estavam:

"VV.SS", "Amos.Atos.Obgos", nestes termos "P.Deferimento."

Mais tarde, percebi que essas e outras combinações, alheias ao vocabulário normal, eram uma maneira de escrever. Tive de decorar algumas coisas a fim de aprender a escrever telegramas: EH, HUM, QQ, PT SAUDAÇÕES.

Em matemática, surgiram o MDC, MMC, cqd (como queriamos demonstrar), nda (nenhuma das alternativas). Na música, DC (Da Cappo), Ebm (Mi bemol menor), ral (ralentando) etc.

Isso, sem contar as placas de carro: AM=Amazonas, AP=Amapá, etc, a "Língua do Pê", vopocepê lempembrapa? E até mesmo o "etc" era "e assim por diante"!

A "Juventude Transviada" descobriu a beleza do som nos nomes das letras: U2=You Too, T42=Tea For Two, IloveU.

Abreviar passou a ser um charme, com o qual os comunicadores exprimem uma secreta intimidade: TV, LP, AP, NIV, Plá.

Pois bem, veio a informática, a ciência do "ôbaôba", e, com ela, uma infinidade de abreviaturas, corruptelas as mais diferentes, com direito a aportuguesamentos como "becape", "leiaute". Scroll (Screen Roll = Rolamento de Tela) e ainda HD, CD, RAM, MB, etc.

Até que chegou a época dos CHATs e E-Mails. Usando de toda essa parafernália adquirida anteriormente, o povo, principalmente os jovens, criaram umas coisinhas práticas a fim de escrever "charmosa e rapidamente" algumas palavrinhas no seu intercâmbio.

Essa linguagem, além de identificar se o usuário é novato, também dádicas sobre a idade, o nível cultural, se o mesmo faz parte da "tribo" e chega a ser irreconhecível para quem não é "do ramo".

Ora, bastou o assunto envolver Informática e euforia de jovens para que surgisse uma certa "reprimenda" de alguns azedos, querendo crucificar as abreviaturas dos meninos.

Dizem que eles estão "desaprendendo" escrever. A verdade, ao meu modo de ver, é bem diferente: trata-se tão somente de alegre engenhosidade. A mesma das nossas Cartas Enigmáticas, do José de Alencar como IG, da língua do Pê.

Imperdoáveis mesmo são as "batatadas" que aparecem nos jornais, novelas, letras de música, discursos políticos, etc, que bem representam o desleixo para com a cultura.

Acho que a "Chatgrafia" em nada atrapalha os jovens. E não estou assim sozinho. A professora Else Martins dos Santos (UFMG), num trabalho de dois anos de pesquisa entre adolescentes de 14 a 17 anos conclui que, no presente momento, o uso intenso de programas de comunicação via Internet, não influência negativamente a escrita do adolescente.

"Para cumprir tal objetivo, procurou-se descrever o programa de comunicação mediada por computador - Coletaram-se amostras de interação on-line que foram comparadas à escrita de outros gêneros textuais, comuns em situações escolares, tais como cartas e provas e, ainda, bilhetes que, sem o conhecimento do professor, circulam em sala de aula.

A análise dos dados revelou que a linguagem usada nos chats é influenciada pelo suporte e que o adolescente pesquisado sabe adequar a sua linguagem a diferentes gêneros textuais, em diferentes situações de comunicação.



Joze Walter de Moura é analista de sistemas e colaborador do Maisde50.